Pequenas Histórias de Buenos Aires VII

Eu tinha chegado há umas 3 semanas. Tinha o telefone do Pablo,chileno, vivendo em BsAs, primo de um amigo brasileiro. Liguei, tinha uma festa na 6a, em prol dos desabrigados do terremoto no Chile. Vambora.
"Você desce no metro TAL e anda umas 3 quadras, na rua tal". Demorou, pensei.
Me arrumei, saí de casa na hora da festa, pra não chegar tão cedo (e a festa era cedo, 22:00, pra BsAs onde as festas começam 1 da manhã...).
Entrei no metro, baldeação, 4 estações, baldeação, 9 estações, baldeação de novo e de repente a estação era meio diferente. Foi ficando meio vazia, com um movimento estranho, umas pessoas mais bravas, mais encapotadas. Uns grupos de homens grandes andando juntos, e eu, de vestidinho, cara de quem não sabe o que fazer e esta tentando disfarçar, com um mapa dobradinho na mão pra ninguém ver, e a bolsa agarrada na outra, disfarçadamente, mas com os nós dos dedos brancos de tanto apertar.
Espero na plataforma, ao ar livre, um vento, além de tudo segurando a saia pra não voar. Minutos, minutos, minutos e o trem não passa. E a plataforma vai se enchendo de familias de imigrantes, com nenês pendurados em panos amarrados nas costas e outros 3 de mão dada com a mãe.
Ainda por cima escuto um grupo de meninas conversando em português (estudantes de medicina indo pra casa), menos mal, não me sinto tão "no lugar errado".
Chega o trem. Diferente por fora. Entra todo mundo. Muito diferente por dentro. O trem é de madeira! Parece um bonde antigo. Anda uma estação. A minha faltam umas 7. Uns moços, meninos, uns jovens digo, skatistas, falando alto, baderneiros, começam a bater o skate no chão, fazer barulho. Dá medo. Fico mais expremida possivel no canto.
Vai chegando a minha parada e a porta não abre. Nem o trem pára. Descubro então que você mesmo é que tem que puxar a porta pro lado para ela abrir, e saltar do trem bem devagar, mas ainda em movimento. Abro, pulo, toda desengonçada. Ufa, cheguei.
Trem/Bonde de madeira com porta manual.
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Aprendendo a se locomover sem carro, em um lugar desconhecido. Saindo da bola "sou de São Paulo"