quarta-feira, 9 de março de 2011

Amor e Ódio por BsAs - Por Simone Grazielle

Por Simone Grazielle.
Minha nova amiga que compartilha comigo a saudades, a dor e a alegria das lembranças.

Já não moro em Buenos Aires há cinco meses e por mais que eu faça piada dizendo que de lá só sinto falta dos diferentes alfajores a verdade é bem outra. Sinto e sofro de saudades demais daquela cidade.

Foi e ainda é uma relação de amor e ódio. Amor por poder caminhar sem destino na Av. de Mayo, Santa Fé ou 9 de Julio num dia de sol, apreciando os cafés, as pessoas e o céu sempre azul que está até na bandeira argentina. E ódio por ver essas mesmas avenidas bloqueadas por manifestantes tantas vezes.

Amor por poder tomar um vinho ótimo e pagar tão barato. Ódio por ter que ficar na fila da porcaria do supermercado Coto ou Disco por vários e muitos minutos, perder a paciência total com toda a raça de caixas num lugar que não sabe o que é tratar bem um cliente.

Amor pelos lugares culturais com entrada franca. Ódio por ver seu dinheiro encolher pela metade quando viajava pro Brasil.

Amor pela vida que os argentinos vivem tão plenamente. Ódio por nunca ter conseguido ver um futuro a longo prazo para mim naquele país.

Amor por conhecer tanta gente diferente, de várias partes do mundo. Ódio por ter que repetir aquele mesmo blablablá de que eu era do Brasil (e não americana ou européia), da cidade de São Paulo, que aqui também tem carnaval e que as mulheres brasileiras não são todas putas, inclusive eu.

Amor as pessoas bonitas (particularmente os homens) a cada esquina. Ódio a toda merda de cachorro a cada passo.

Amor, amor, amor por viver numa cidade linda, que a cada esquina me tirava o ar de tanta por tanta beleza na arquitetura e história. Ódio por só ter férias de 15 dias e viver tão longe dos parentes e amigos brasileiros.

Amor pela noite que começa e termina tarde. Mesmo no forte do inverno, quando às 17h o sol já está sumindo, é normal escutar um “boa tarde” se ainda não tiver passado das 20h. Ódio os dias curtos no inverno e o frio rigoroso por, no mínimo, quatro meses do ano.

Aprendi, como todo portenho, a amar e odiar Buenos Aires. Sinto saudade do ritmo “devagar sem ser quase parando” das pessoas em uma cidade que nunca para...

Tive que voltar, os novos desafios profissionais me acenavam daqui. Deixei para trás a “minha” casa, a minha solidão que aprendi a amar, o meu controle. Lá ficaram amigos, muitas descobertas e um amor, que ainda insisto em regar...

Depois de um carnaval tão divertido, as lembranças e as saudades de lá se fizeram presentes no dia hoje.

Só sei que navegar é preciso e entre tanto amor e ódio, já planejo uma nova visita a cidade portenha que ganhou meu coração."


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