segunda-feira, 29 de março de 2010
Quanto rende o tempo
Em São Paulo eu tinha sempre coisas a fazer. Tarefas, deveres, prazeres, passeios. Conhecia bem onde eu estava, ia pra lá e pra cá.
Alguns dias com milhões de coisas e outros vazios, mas sempre fazia coisas. Sempre terminava o dia satisfeita com a produtividade.
Procurava fazer tudo rápido, o mais rápido que eu podia. Agilidade, eficácia.
Quando estava no trabalho tinha autonomia de organizar meu tempo, as horas do meu dia, cumprindo minhas tarefas, anotando na minha agenda.
Não precisava esperar que me mandassem fazer. Já sabia o que deveria ser feito.
Cheguei aqui depois de 20 dias de "férias"de trabalho em São Paulo. Já estava entrando num ritmo de calmaria. Acordava tarde, dormia quando estava triste para não lembrar das durezas da vida. Comia quando estava com fome, fumava quando estava ansiosa.
Comecei a trabalhar, 4 horas por dia, comparado com as 9 horas por dia de São Paulo, pode-se dizer que eu ainda continuava de férias.
Entro no trabalho as 11:00 da manhã. Acordo as 9:30, saio de casa as 10:20. Em SP acordava as 6:30 ou 7:00, entrava no trabalho as 8:00. Quando eram 11:00 eu já estava morrendo de fome, ja ansiava o almoço as 12:00 em ponto, na hora que o sinal tocasse. Já tinha feito umonte de coisas, resolvido problemas, encaminhado trabalhos, falado com umonte de gente. Ás vezes telefonava para algum fornecedor as 8:40 e quando caía na caixa postal pensava: dormindo a esta hora? Não trabalha não amigo?
Aqui? Aqui as 11:00 da manhã são como as 8:00 de sp. Ainda tenho os olhos pesados de ter acordado agora, e o gosto do café com leite na boca.
Ainda sinto aquele friozinho de ter recém saído da cama. Ainda não fiz nada, não resolvi nenhum pepino, não falei com ninguém Ainda tenho a voz meio rouca de sono.
No trabalho ainda não tenho autonomia de decidir o que vou fazer. Chego, e mesmo que tenha coisas pra fazer que eu ainda não sei o que são, tenho que esperar que alguém me diga. Que alguém tenha tempo de me dizer o que fazer. E como. Tenho que respeitar o "como" das pessoas mais do que nunca. Não posso fazer da minha maneira. Repensar as maneiras, encurtá-las, questionar.
Saio do trabalho as 15:30, ainda está sol lá fora, e calor. Chego suando em casa, da caminhada, e do bafo quente do vagão do metrô. E ainda tem dia. Ainda tem horas produtivas. E sinto que nem sempre fiz algo de produtivo no trabalho.
Estou aprendendo a ser menos eufórica com a produtividade, que eu tanto reclamava, mas que eu mesma me cobrava.
Estou aprendendo a usar as horas de maneiras diferentes.
Não sinto mais sono as 11:00 da noite, antes de ir pra balada. Não deixo mais de sair com alguém por que estou cansada.
Não tenho vergonha de ficar em casa numa 6a a noite por que estou afim.
Aprendendo a me respeitar, e não me obrigar a fazer nada por medo ou vergonha. Ou por orgulho.
Não preciso ser a mais rápida, a mais produtiva. Preciso ser eu.
Se ser eu for ser rápida me faz bem. Mas se ser for saber respeitar os momentos que quero ser devagar, em faz muito melhor.
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má! eu adoro as coisas que escreve!
ResponderExcluiradoro saber como são as coisas por aí, as diferenças... essa deve ser uma das experiências mais incríveis que alguém pode ter! e eu admiro demais você por estar aí, sozinha, batalhando por tudo! por isso que eu te desejo cada dia mais sorte, mais novidades e experiências!
saudade de você!
beijão!!!